sexta-feira, setembro 15, 2006

CRISTINA vagueia...

CRISTINA vagueia. Procura segurança em todos os becos e ruelas da cidade. Ela fabrica o amor e a felicidade do zero. Sem expectativas. Sem futuro. Sem fim.
Cristina ama como se um suplemento fosse para a triste solidão que transporta. Sem olhar para trás eleva-se na coragem e nos saltos vermelhos que contrastam com a pele branca das suas pernas.
Eu sei, Cristina, como te olhas ao espelho e como penteias esses longos e frondosos caracóis dourados. Lembro-me desses momentos efémeros, como te abraçava e beijava o cabelo, não gostavas, mas eu insistia. Da maneira como mordiscava o teu pescoço... Todos os dias via-te a transformar esse teu cabelo enriçado de noite dormida em palmeiras frondosas que te caiam ate aos ombros. Todos os dias entravamos no corpo um do outro, como se sozinhos fossemos apenas pedaços de corpos mutilados. Todos os dias entravamos um no outro por todas as portas. Todas as noites adormeci encaixado em ti como um lego encaixa no outro, num fulgor perfeito dos nossos corpos juntos. Todas as noites senti o castanho dos teus olhos dissolverem-se no meus com uma felicidade quente e imensa...
O prazer que o meu corpo conhece é o que aprendeu no teu e foi esse que ensinei a outras mulheres, ás varias que tentavam enganar a tua ausência.
Muitas vezes ficava especado a olhar a tua beleza e como ela me preenchia. Não eras bonita, nem tinhas corpo de modelo, mas em ti só via a beleza que me fazia sentir belo. Por ti me embelezava, por ti me sacrificava, por ti deixei muitos dos meus sonhos e motivações, porque só tu me davas o que sempre quis, o que sempre procurei. Uma vida inteira não apagará da pele o peso magnifico desse fulgor. Talvez por isso nunca acreditei em nada, vivi num aquário de sentimentos e sonhos impossíveis.
Hoje deixo a capa de Anjo Negro num abismo de lágrimas congeladas. Hoje sinto-me encontrado contigo. Hoje também te abandono da mesma maneira ardilosa que me deixaste.
Talvez para morrer precise de amor, família e dinheiro, mas para viver precisei de ti e deste sentimento que me acorda, a saudade.

Diogo Paiva

ANDANÇAS 2006

Estou-vos a escrever num harmonioso dia de praia. Deitado na minha toalha contemplo um horizonte rectilíneo e interminável apenas quebrado pelas ondas atlânticas. Passado algum tempo após a minha passagem pelo Festival Andanças, decidi calmamente retrata-lo neste meu modesto diário de bordo. Inspirado pela brisa marítima relembro o pior e o melhor desta edição.

Este ano foi diferente. Foi o mais diferente de todas as 6 ou 7 edições que tive oportunidade de participar. Não pela sua singularidade mas pela maneira como evoluiu toda a sua essência. Não que os workshops e os andantes fossem distintos de todos os outros mas porque simplesmente todo o espírito parece ter-se volatilizado.
Com o evoluir da dimensão e a ideia de arrecadar dinheiro fácil, foi estabelecida e elevada a conceito basilar desta edição, um regime de acesso ao parque de campismo simplesmente ridículo e de pura obrigatoriedade com contrapartida monetária.
Como tudo o que é bom acaba rápido, o característico espírito pacato, familiar e de grande união foi eclipsado por uma organização determinada a arrecadar grandes dizimas aos andantes. Nesta edição, para se poder frequentar o campismo, a “ Pé-de-Xumbo” obrigava a que pelo menos o ingresso para o baile fosse adquirido. Apesar de ninguém fazer intenções de nada contribuir ou participar nas actividades esta obrigatoriedade pareceu-me desadequada, simplesmente pelo facto de os ingressos só se fazerem vender após as 7 da tarde, o que naturalmente impedia o acesso aos nossos pertences até a essa hora! Para agravar ainda mais a tão desnecessária obrigação, porque quem se estabelece no campismo do Andanças naturalmente não está lá só para ouvir os pássaros a cantar, a organização colocara nos balcões de informações e serviços, pessoas incompetentes e declaradamente com falta de inteligência, várias vezes comprovada por mim! Isto só acontece com “pitas” e “murcões” que a troco de uma pulseira de acesso ilimitado, mostravam que faziam as funções designadas pela organização, ou pelos menos pensavam eles, e elas... A isto lhe chamavam de voluntariado!!! Bom não querendo mostrar nisto uma regra, o facto é que há sempre excepções, raras claro... no pior do andanças 2006...

O melhor ... e depois de ultrapassadas as intransigências , consegui encontrar o motivo e a essência do Andanças que me agarraram para continuar a estar e dançar.
A viagem até Carvalhais foi agradável como sempre, e também como sempre as paragens obrigatórias para remarcar o território abandonado anualmente. A Praia Fluvial do Vau foi mote de grandes brincadeiras aquáticas, fotos e uma boa jantarada, apreciando os petiscos do Bar da Praia.

Por entre a penumbra do monte e escondido pela negro da noite, surge uma personagem tipicamente rural, qual “jet-set” beirão, que a troco de histórias e das prometidas pipas nos cativou e distraiu sempre dentro do espírito festivaleiro. Depois de varias peripécias o “Compadre Alentejano” proporcionou-nos um momento fotográfico digno de álbum! Todos entraram nas brincadeiras e esta foto demonstra como bem recebemos e fomos recebidos por esta personagem.

Seguindo viagem, na noite galopante, reconstruí o meu efémero lar e preparava-me para uma grande noite de bailarico e copos. As hostilidades abriram-se... Nessa noite o reencontro com o espírito foi natural, e finalmente senti-me verdadeiramente no festival. Dancei, pulei e reencontrei pessoas que só por esta ocasião poderia conviver. Pessoas que comigo construíram um passado e marcaram a minha vida e com as quais não faço intenções de perder contacto... elas sabem quem são... “No momento da emoção os corpos dão-se ao abraço”




No dia seguinte, o acordar tardio e esforçado para manter a cabeça levantada, condicionaram a minha inércia e o meu GPS dizia-me que a magia da relva ajudaria-me a carregar baterias.
Momento especial para o divertido convívio da já habitual andante “KUMPANIA ALGAZARRA”www.kumpanialgazarra.com. Com um som a roçar Emir Kusturika, estes Portugueses estão lá, adorei e por isso fiz questão de lhes comprar um CD.




O calor do verão ajudou-me a procurar sombra, e ajudou-me a descobrir novas Andanças dentro das andanças. Por entre mercados e mercantis, encontrei a magia dos instrumentos tibetanos, australianos e orientais, um pedaço de mundo ao meu alcance. Para muitos andantes, esse pedaço era comprado, principalmente por mulheres, que a troco de 20euros e 10 minutos ouviam o “Xamã” e agarravam o ele lhes segredava. A fila era interminável !!! A eterna curiosidade e intriguisse feminina!



Este Festival foi-me curto porque havia necessidade de renovar marmitas e procurar novo poiso para a minha efémera casa. Mas por entre muitas peripécias e aventuras à descoberta de novos mundos, fica um apreço especial para a cidade de S. Pedro do Sul.
Um Abraço.
Diogo Paiva