segunda-feira, outubro 02, 2006

Utopia


Utópico, é o que sempre desejamos para nós e para o mundo. Ideias soltas que nos transportam para uma realidade feita por e para nós, um mundo de sonhos e de desmistificações da realidade quotidiana, enfim, um Éden construído para a nossa redenção.
Ainda em estado “Boom” o “Manel e a Maria” foram os dois até Oliveira do Hospital para um novo festival. Ainda inserido na programação do Boom Festival, esta festa decorreu durante 3 dias com a denominação “UTOPIA”.


As forças foram recarregadas e novamente o meu efémere lar montado num caótico mar de casas. Bem, isto era tudo menos Utópico! Instalei-me mesmo na margem do Rio Mondego, a água passava a meio metro dos meus pés, fresca, límpida e sobretudo relaxante. Reparo no ambiente á minha volta, junto das pessoas que gosto, senti um enorme conforto e um desejo de descobrir o que de Utópico existe neste novo festival, e já lá iam 3...
As claras águas do Mondego trazem-me memórias de adorações e de emoções que noutra vida experimentei. Preparei-me para o rebaptismo nesta minha nova vida. O utópico desenhava-se.
Uma calma corrente abraçava as pedras do Mondego, transportando até mim uma fresca e mordiscada sensação. Ao fundo reparo num sujeito que em ramos caídos sobre as aguas montara o seu repouso. Completamente Idílico!
Um pouco acima, ainda no leito do rio, desenhou-se uma espécie de barreira em pedras, uma pequena construção feita por todos na qual também dei o meu contributo. Neste microcosmos o contacto com a natureza é absorvido de maneira intensa, uma espécie de reconfiguração humana, sem o cariz destrutivo que a humanidade cultiva. O utópico concretizava-se.

Com o passar do tempo, o propósito maior da nossa presença em todos os festivais de musica electrónica aproximava-se, o concerto de FRAME. Depois de nos ambientarmos e conhecermos a Organização, a ansiedade aumentava a passos largos, ao mesmo tempo que o interesse era despertado pelas pessoas que conhecemos e demos a conhecer. Os primeiros fãs apresentavam-se em forma de gurus do trance psicadélico, chill-out, hiperdub e microdub... as coisas que aprendemos com um DJ Brasileiro que iria animar o chill-out depois do nosso espectáculo.



Já passava das 4 da manha quando se ouviram as primeiras notas de FRAME, um concerto com mais de 2 horas iniciava-se debaixo de grande frio e uma boa dose de boom-shankar. As minhas imagens fluíam ao ritmo do som, e cativei a atenção de um companheiro nas lides do Vídeo e Imagem, um rastafari de nome Sebastian, natural da França mas radicado há mais de 2 anos na Índia, onde fazia a vida como Fotografo Artístico. Tive oportunidade de ver o seu trabalho.
Com um arrepiante frio marinado nas margens do Mondego, este prestável Francês ofereceu-me um revigorante chá verde, assim como um saboroso chillon indiano...Docinho, docinho, docinho!!! Reuniram-se as condições para que o meu live-act corresse maravilhosamente bem.
A aura solar cortava a escuridão da noite, e o nosso “encore” aconteceu com o dia a nascer, simplesmente espectacular! Foi para esta extasiante retribuição da natureza e das várias pessoas que abandonaram o seu repouso para dançaram ao som de FRAME, que trabalhamos durante vários meses. A Utopia desceu naquele pedaço de mundo!
Nessa mesma manha os fãs interpelaram-nos e agradeceram-nos pela viagem que lhes proporcionamos até ao amanhecer. Como forma de retribuição oferecemos vários CD’S com o nosso mais recente trabalho musical.



Ainda sem repousar-mos da noite do nosso espectáculo, as forças interiores emergiam e davam-nos a energia para continuar. Com o dancefloor ao rubro, debaixo de muito bons decibéis transmitidos por uma bonita DJ , com muito glamour, continuamos com uma motivação extra para manter as forças em alta. Soube mais tarde que a Dj se chama Gabi e é portuguesa! Aquela menina emanava uma onda de bom ambiente e muita pinta. Continuamos a dançar e a conviver ate à uma da tarde. Como as minhas forças já começavam a entrar na reserva decidi entregar-me ao repouso. Nessa altura a minha tenda assava qualquer matéria orgânica e para meu bem-estar e tranquilidade, improvisei um repouso mesmo ao lado da água do Mondego. Cansado mas satisfeito, deliciei-me com a natureza ao relaxado som dos pássaros e da água... Senti o fresco Mondego com as mãos...em pouco tempo adormeci...
Acordei no meu quarto em Oliveira de Azeméis. Fiquei com a estranha sensação que tudo tinha sido um sonho, um bonito sonho que me levou a viajar durante um galopante mes de Agosto, atravessando experiências que sempre julguei estarem longe do meu alcance e o melhor de tudo, junto das pessoas que adoro.
Afinal de contas, o utópico não existe, incuba-se dentro de cada um e nasce quando encontramos uma maneira de o concretizar.
Da mesma forma que nasce uma bola de sabão, transportando a beldade e a magia dos sonhos, no seu efémere tempo de vida explode e desaparece, fazendo-nos cair na realidade da vida terrena e na volátil sensação que tudo pode ser eterno.

Diogo Paiva